Livro "No princípio era a nudez"



Título do livro: No princípio era a nudez
Edição: 12/2017 (edição de autor)
Preço: 10 €
Encomendas:  diogocleal@live.com.pt
Entregue em mãos na zona do Porto,
restantes zonas via ctt (+ 1.50€ portes de envio).


| Curta-metragem com poema "Marginália"
do livro "No princípio era a nudez"
Voz, poema, realização, sonoplastia: Diogo Costa Leal 
Imagem: Mariana Vasconcelos

Samples musicais: Mariana Ferreira

Excerto do pósprefácio do livro

(...) É a própria escrita que se quer líquida, pois tem origem nas mãos que a precedem, "as mãos dos poemas", mãos abertas, feitas "de amor tinta seiva e fruto". Em estado líquido. Mas este livro não é feito de poesia em estado líquido ou fluído apenas por ter origem no seu autor, ou apenas pela natureza da sua escrita. O Diogo está, ao mesmo tempo que escreve, consciente de que um poema só se torna verdadeiramente um poema quando é lido por alguém. Ler o poema é participar no poema, comungar desse estado líquido, acrescentar ao sangue do autor o nosso próprio sangue, contribuindo assim ainda mais para acentuar a sua fluidez. Chega mesmo a dizer-nos que "o ângulo a partir deste poema/ é formado entre/ ti/ e algum sangue", convidando-nos explicitamente a incliná-lo, por isso, como quisermos. O poema será, portanto, produto dessa transformação: saído do sangue do poeta, mas passível de se inclinar, para se tornar pessoal (sanguíneo) para quem o lê. Porque afinal o poema é vida, sangue, carne, choro, imperfeição. E todos comungamos dessa mesma vida, por mais diversos e distantes que sejamos uns dos outros: "tu, eu/ peso e leveza com o mesmo útero de inocência/ carregamos nas veias na carne/ o mesmo sangue/ o mesmo fogo o mesmo embalo o mesmo/ incêndio", "o mesmo corpo a mesma imperfeição / a mesma terra". (...)
Pode-se compulsar a intensidade que jaz interior a uma obra, seja por aproximação académica seja por intuição auto-didacta, mas só se pode conhecer genuinamente uma poesia quando se entra em unidade com ela. Os recursos podem ser variados e o seu uso sábio na dose e na maneira, equilibrado e tenso na medida. E esta poesia tem disso a parte inteira - uma pontuação criativa... Significante; imagens que são, por vezes, de uma penetração quase cinematográfica; a poética de brincar com a escrita, e o que é mais, a de brincar com a língua; a decomposição da fala à dimensão do emocional, no sentido em que se pode atribuir essa característica a uma sensação ou a uma música, e que confere aos objectos, coisas ou animais, astros ou eventos meteorológicos, forças da natureza, a qualidade de entes.
E os símbolos... Sempre. Sempre presentes nestes poemas. Até quando o poeta se despe deles quando quer. Isso é o que permite distinguir entre os poetas e os fazedores de versos. (...)
"No princípio era a nudez" é um grande sim. Uma grande reminiscência feita presente de um paraíso não perdido, ao nosso alcance na experiência de todos os dias. É o sagrado no secular. O êxtase celular, o sangue correndo, a vitória sobre o frívolo, sobre o medo, sobre a contenção de uma vida morna, plana, sem picos de dor ou prazer, sem mistérios, sem transcendência, sem mares revoltos.
A qualidade desta poesia não me surpreende. O que me surpreende é a força e a coragem de permanecer no fogo dessa guerra que consiste em, permanentemente, procurar mitificar a existência - a própria e a que, através de uma névoa toda particular, conseguimos ver.
Todos aqueles que procuram a consolação da alma poderão encontrar nestes versos o júbilo raro de uma palavra irmã. Um hino à vida, ao amor, à leveza, à força, perseverança e sabedoria, condescendente com o humano.

Joaquim Morgado
Luís Beirão
Mariana Ferreira

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