a criação do poema

O poema bate à porta. como folhas de Outono entre o chão sagrado e a loucura de uma dança nos olhos onde em todo o lado é o instante verão da primavera. O poema tem olhos. Tem boca. Tem cauda. Pele fofa e eriçada. O poema vai nu. É humano e tem cascos nos seis pés de aranha. A carne reveste e despe o poema. o seu transporte é um baloiço mágico, brincadeiro, brigadeiro de pétalas. Um abraço orgânico entre a esquina recôndita de um tempo e o degrau de um pormenor habitado por gente vestida de uma outra gente floresta. O poema traz cadernos de gente que regressa na devagarosa locomotiva de uma saudade ou de um adeus. O poema traz um ventre nas mãos. Ou as mãos à porta do ventre. Ou a mão com tinta de sangue que habita na maravilha parida que logo se levanta para começar a dançar. O poema não traz nomes. nem escolas. nem contratos. é uma criança a pedir uma caixa de cartão ao avô para fazer um ninho de pássaros. O poema traz humanidades e sabores e contemplações e abóbadas cheias de luz terra céu chuva e espuma. No poema nasce um pai claro dentro da filha noite. Batem leves os ponteiros do relógio como cordas abraçadas aos dedos do poema que se levantou da tua parede só para te olhar. E borboletas a envolver a palavra como um abraço um beijo ou uma toalha depois de um banho triste. 
o poema estala como ideias que se transfiguram em flor na subconsciência. o poema tem corpos expiados por memórias de outros corpos. tem sílabas como girassóis resistentes a facas, como faróis elásticos no eclipse. o poema joga, baralha dá e corta, o poema transforma os naipes em correspondência e faz malabarismo com ela. até se transformar num cântaro. o poema é a esferográfica sensorial apontada ao coração do universo dos sentidos. o mau poema traz só a razão, já o poema absoluto traz a lágrima risonha dentro da lâmpada na transparência da sensação. batem loucos e leves os sinos do poema na pele que o toca, a favor da igreja das jóias alturas da inocente infância, que bate e rebate na rotina como porta rebelde a bater pelo vento da casa a música, como asas a baterem noutras asas o esplendor aéreo dos corações testemunhos, para nos lembrar, todos os dias, do ouro da importância de todos sermos anjos
terrestres.


Diogo Costa Leal

colocado no livro de prosa


The Creation of A Poet, Taha H Malasiâ

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